sexta-feira, 1 de julho de 2011

E não é que o elefante se evaporou?...



Não parti para a leitura desta colectânea de contos com o maior dos ânimos. Como por diversas vezes já referi, estou quase sempre de pé atrás quando inicio a leitura de um dos livros de Haruki Murakami, não obstante ele ser, provavelmente, o meu autor preferido. Como se de um sistema de segurança se tratasse, pego num livro seu com a convicção de que, talvez desta vez, não vá ser uma leitura tão abismal como as anteriores. Neste caso, e infelizmente, este meu palpite no vazio revelou-se algo verdadeiro.

Definitivamente, os contos são uma realidade à parte de um romance. O domínio da arte do conto é paralelo ao da narrativa grande. Por um lado, não pode ser um romance condensado em vinte páginas; por outro, também não pode ser um excerto sem pés nem cabeça, como se de um capítulo se tratasse. Na busca deste equilíbrio, creio eu, reside a técnica de um bom contador destas curtas narrativas. Sendo este o primeiro livro do género que leio de Haruki Murakami, concluo que este talento da arte de contar histórias pequenas é um pouco desiquilibrado nele... numas consegue dar a volta e sair por cima, noutras acabamos por nos perder na névoa indefinida daquilo que não conseguimos identificar bem... e esta minha explicação foi confusa, de certeza.

Temos quatro tipos de contos em «O Elefante Evapora-se». Neste sentido: uns parecem ser fruto de um planeamento calculista e estratégico, outros assemelham-se a primeiros capítulos inacabados, outros resultam de forma espontânea na sua liberdade, e outros ainda não passam de nevoeiro difuso emaranhado. Este nevoeiro, presente em alguns contos mais pequenos, mas também noutros maiores, de tão pouco palpável, não me permitiu fixar-me emocionalmente às suas histórias.

Há contos muito divertidos, outros comoventes, outros maravilhosos. Os preferidos: «O Comunicado dos Cangurus» fez-me rir como poucas páginas, na minha vida de leitor, alguma vez conseguiram. «Sono» arrepia do princípio ao fim. «Os Celeiros Incendiados» tem qualquer coisa que me agarrou completamente, assim como «A Janela», apesar de pequenino. «Um Barco Lento para a China» quase me emocionou, embora não saiba explicar porquê. O conjunto dos últimos três contos também foram muito interessantes, embora destaque «O Último Relvado da Tarde», pelas imagens e aromas transmitidos.

Depois há o caso dos contos intermédios, que na minha opinião estão bem construídos, e são interessantes, mas aos quais não criei por qualquer razão um laço emocional com as suas narrativas. E tenho pena em relação a esses. Tenho pena porque sinto, pela primeira vez, um certo grau de desilusão relativamente a uma obra de Murakami. Embora «Underground» e «Hear the Wind Sing» também não tenham sido propriamente umas pérolas, o caso de «O Elefante Evapora-se» é diferente, porque com este, lá no fundo, eu estava à espera de me deleitar.

Não está em causa a qualidade de Murakami. Todo o surreal, o imaginário fantástico, as vidas expostas das personagens, a sinceridade brutal com que o quotidiano é recriado, tudo isso me continua a entreter neste autor. Mas, talvez pela duração que cada conto tem, foram poucas as ligações que criei, muito súbitas e repentinas. Na minha opinião, Murakami move-se bem na área do conto, mas não tanto como verdadeiramente domina o romance. Pelo menos na maioria das vezes. Contudo, e apesar de todas as coisas que disse, estamos perante uma leitura descontraída, divertida, relativamente leve (embora seja discutível), e aconselhada por mim!