quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Uma leitura de Norwegian Wood...

Opinião do Tiago da equipa do blog MURAKAMI PT.

Parti para este livro com uma imagem de tal forma estereotipada que não fazia a mínima ideia do que ia encontrar nele. Frequentemente é dito que «Norwegian Wood» é o mais romântico dos livros de Haruki Murakami: a aproximar-se dos romances escritos para jovens com as hormonas aos saltos. O próprio Murakami afirmou que «Norwegian Wood» foi uma experiência isolada, a não tenciona voltar ao mesmo género. Por outro lado, a obra é o maior dos fenómenos de venda no Japão. E, um pouco por todo o mundo, são imensos os leitores que dizem que «Norwegian Wood» é o seu preferido. Com um começo algo estranho e anticlimático, como penso ser comum neste autor, debrucei-me sobre um mundo que pensava desconhecer.

Enganei-me. O Haruki Murakami pode dizer o que quiser. Esta não é uma tentativa isolada, e sim uma tentativa integrada entre os seus restantes livros. Não temos em «Norwegian Wood» uma mudança abrupta de estilo, nem de perto nem de longe. Temos a contínua voz deste contador de histórias. A começar em tudo, a acabar em tudo. Na personagem principal, igual a tantas outras de Murakami (talvez um pouco mais... jovem que o normal). Nas personagens secundárias que o rodeiam, mulheres com histórias tão diversas. No elementos western sempre presentes, músicas, livros, coca-colas. Nos tremendamente bem caracterizados momentos de solidão, e os de paz, e os de vida quotidiana que vai correndo sem que nada ocorra. Murakami retrata a vida de uma prespectiva melancólica.

Foi nesta obra que li um dos mais poderosos capítulos de Haruki Murakami, e isto depois de uns dez livros dele lidos. O capítulo 6 de «Norwegian Wood», este titânico capítulo 6, com 90 páginas (a contrastar com os restantes, que andam à volta das 20, 30 páginas). Um relato de um mundo completamente à parte, mas bem real. Neste preciso instante, há pessoas a viverem esta paz nas suas vidas, separadas de tudo o que nos parece essencial. A sensação com que fiquei quando acabei este capítulo ganhou à que me ocupou quando terminei o livro. Quando estas 90 páginas chegam ao seu término, ficamos com a sensação que está tudo dito, e chega até a nascer em nós um palpite de como aquilo tudo vai acabar. É assim mesmo em Murakami.

Nota negativa... Haruki Murakami excedeu-se com o erotismo desta vez. Principalmente na segunda metade da história. É de se revirar os olhos e suspirar de aborrecimento. Claro que, em tais doses, é propositada esta sensação que passa para o leitor. A personagem principal confronta-se com este mesmo problema: o excesso de sexo. O assunto é tratado de forma contínua, algo que está presente sempre com uma intensidade relativa. Acho que percebi onde o autor quis chegar, mas foi demais. A certa altura as cenas secavam por completo.

Notas positivas... quase tudo o resto! Não há muito mais que tenha a apontar como menos bom. A tradução de Alberto Gomes tem alguns elementos que me irritaram um pouco, como os «De verdade?» em vez de «A sério?», e o uso da 2ª pessoa do plural em algumas conversas entre amigos. Mas no geral o espírito de Haruki Murakami foi captado. Este autor tem um força incrível, é capaz de nos cravar dentro das histórias, e deixar-nos lá a marinar durante muito tempo. Não é o livro que entra na nossa vida, somos nós que entramos no livro. Isto é assustador, porque uma parte de nós fica lá, e continua a viver lá mesmo depois de termos acabado. Estou a falar usando o «nós», mas na verdade quero usar o «eu». Nem todos terão a mesma experiência. «Norwegian Wood» foi uma experiência de leitura triste, melancólica, Murakami ao seu nível - excelente.

3 comentários:

Luís de Aguiar Fernandes disse...

"o uso da 2ª pessoa do plural em algumas conversas entre amigos"

Não sei que idade tens nem de onde és, mas a maioria dos portugueses usa esta forma verbal no dia-a-dia. Afinal, é assim que aprendemos a falar e a escrever.

Oxum disse...

Amei este livro...
Posso dizer, aqui e agora, que este foi o único livro que me fez chorar.
Tocou nos nervos mais profundos da minha sensibilidade estética, afectiva e emocional.
Foi um livro que me entristeceu à medida que se aproximava do fim. A ultima página era o cessar de uma experiência única - a sua Leitura, sem prejuízo e certeza de que o farei novamente, mas já não será o mesmo ou talvez não. Há sempre aspectos escondidos nos recônditos da alma do grande artista.

Rodrigo disse...

Estou lendo esse livro no momento, Eu sempre gosto dos começos de Murakami, eles sempre me inspiram tem uma riqueza de detalhes e quando a história e ampliada você já sente afinidade com o personagem principal.

Infelizmente não estou gostando da história, o excesso de libidinagem do livro é um pequeno problema, o personagem trata o sexo de forma tão triste que as vezes sinto pena. O conflito também me preocupa, estou iniciando a parte final e tenho medo do que vem a seguir.

Eu devoro os livros de Murakami a muito tempo, comecei com 1Q84 (adorei os 2 primeiros e não engoli o final), mas minhas 3 paixões são Sputnik Sweetheart, o incolor tsukuru tazaki e seus anos de peregrinação e Caçando Carneiros.

Gostei desse blog, pena que parece ter acabado.