domingo, 6 de fevereiro de 2011

Crítica - Dança, Dança, Dança


Neste preciso instante, sinto uma vontade tremenda de escrever uma longa análise acerca deste livro; e, ao mesmo tempo, faltam-me as palavras para esta curta critica. Por onde começar? Pelo re-afirmar da frase já muito batida por mim - Haruki Murakami é o meu autor preferido. Não tenho dúvidas. Depois do que já li dele, não tenho qualquer dúvida de que esta seja a minha verdade actual. Ler um livro de Murakami é uma experiência rara, de absorção e magia, de distorção da realidade, de musicalidade presente no quotidiano, tudo isto e mais.

«Dança, Dança, Dança» é a sequela de «Em Busca do Carneiro Selvagem», que por sua vez concluiu o ciclo da Trilogia do Rato. Regressamos ao narrador sem nome, à sua vida, aos seus pensamentos; e é um regresso tão acolhedor que nos sentimos absolutamente em casa. Isto apesar do princípio desta obra não ser propriamente dos mais fáceis - Murakami, na minha opinião, tem nos diálogos entre as personagens um dos seus grandes trunfos; e nos primeiros três capítulos existe uma quase inexistência deles. Só a partir do quarto ou quinto é que o solo da obra passou a ser permeável, e me comecei a afundar.

Já não parto na expectativa de gostar ou não. É quase um dogma que tenho enquanto leitor. A probabilidade de não vir a gostar de um livro dele vai diminuindo à medida que o leio mais. Em «Dança, Dança, Dança», temos um regresso aos cenários, tão modificados; e conhecemos tantas personagens novas, e tão cativantes. O próprio narrador parece estar mais interessante do que nunca. O universo aprimorou-se neste quarto livro da saga do Rato.

Senti nesta obra um... «peso japonês»... que não tinha sentido tão intensamente nas outras. Isto apesar de, a certa altura, sairmos do cenário do Japão - facto raro em livros do autor. Mas há qualquer coisa nas relações das personagens, nos actos de algumas delas, mais oriental do que o habitual. Uma simples impressão minha.

O livro é viciante. Custa deixá-lo de lado, apetece lê-lo pela noite dentro, mantermo-nos por dentro da história. E agora vem a questão do enredo - muito pouco linear, ao contrário do que encontramos no «Em Busca do Carneiro Selvagem». É que em «Dança, Dança, Dança», não temos uma intriga bem definida, vamos vagueando, vamos dançando, dançando, dançando. Daí que não goste de algumas partes da sinopse, e mesmo de críticas de jornais mundias quando se referem a Murakami, utilizando temas como «thriller», «policial», «investigação», ou «o narrador e os seus amigos acabam por se envolver num caso de homicídio» (o exemplo deste livro). Nada mais errado. Isto é um distorcer completo da imagem que este livro deixa. Não se trata de mistério, nada disso. Se não tivesse sido por acaso que descobri o autor, nunca teria comprado um livro seu pelas sinopses que normalmente são apresentadas. É um erro associar estes temas às obras dele...

As personagens vão deixar saudades. Existem momentos de beleza incrível, majestosa, como se víssemos uma paisagem arrebatadora ao vivo. As emoções das personagens, as relações tão complexas, o surreal presente a cada momento, o realismo mágico que tanto me fascina... «Dança, Dança, Dança» é um dos melhores livros que li de Haruki Murakami. No fim do livro, resta um sentimento de vazio, de continuidade, de... pegarmos noutro livro, iniciarmos uma nova leitura, ainda com a cabeça totalmente centrada na anterior... e irmos dançando à medida que a vida passa. Imensamente tocante e poderoso.

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