quinta-feira, 9 de junho de 2011

Conferência de Imprensa - Espanha

Fotografia do autor a 8 de Junho de 2011



[Traduzido pelo blog MURAKAMI PT do castelhano]

O escritor japonês Haruki Murakami, que amanhã [hoje] irá receber o XXIII Prémio Internacional da Catalunha, considera que os autores do seu país deverão apostar no futuro em histórias que ajudem a “animar” os seus compatriotas, depois de uma tragédia como a do terramoto e do tsunami do passado Março.

Durante uma conferência de imprensa ocorrida hoje na Generalitat, o autor revelou que está à espera que lhe apareça “a musa” para iniciar um novo projecto literário, embora não tenha mantido segredo de que, depois da sua obra 1Q84, tenha ficado “vazio” e que provavelmente não estará recomposto para escrever date para o ano.

Acompanhado pelo presidente do júri do Prémio Internacional da Catalunha, Xavier Rubert de Ventós, Murakami assegurou que os japoneses estão habituados a ser vítimas de catástrofes, mas que devido à crise nuclear que vivem actualmente estão em estado de choque e sem saber muito bem o que acontecerá em seguida.

“Nós queremos saber para onde nos podemos virar. Estamos perdidos, sem rumo. Quando acabou a 2ª Guerra Mundial tomámos o caminho directo para a riqueza e para a paz, e sonhámos com um país rico e pacífico; mas estes sonhos desapareceram. Estávamos encantados com este nosso poder técnico, e agora estamos desorientados, embora acredite que recuperaremos.”

Em relação à sua ocupação de escritor, que iniciou aos 29 anos, sem nunca ter pensado que iria desempenhar até essa idade, sublinhou que o motivo porque escreve é o desejo de “contar boas histórias”.

Também assinalou que apesar de ter as suas próprias opiniões políticas e os seus valores, “basicamente sou um escritor, e é essa a razão porque estou aqui”.

Afirmou que as histórias lhe surgem de maneira natural. “Não encontro qualquer dificuldade no momento de escrever”, e que era mais complicado, quando tinha vinte anos, gerir um clube de jazz em Tóquio.

“Quando escrevo – e já disse isto – vejo imagens e uma série de instruções na minha mente, que me limito a seguir. Não tento perceber o sentido ou o significado dessas visões e imagens. Simplesmente escuto essas vozes, e sigo-as.”

É por isso motivo, destacou, que é cada um dos leitores que tem que interpretar como quiser as suas histórias. E, dirigindo-se aos jornalistas na sala, disse: “Têm liberdade absoluta, o livro está dedicado a vocês, e espero que desfrutem com ela”, numa referência à sua última obra.

Questionado sobre o facto de que nas suas histórias há sempre cenas pesadas, incluindo assassinatos relatados sem dispensar muitas gotas de sangue, Haruki Murakami esclareceu que é uma pessoa “amável, terna e calma, sem nenhuma tendência particular para a amargura”.

Mas reconheceu que por vezes, enquanto escreve romances, não sabe porque razão, “aparecem cenas brutais, duras, que me incomodam, mas que creio profundamente que devo escrever, há alguma força que me empurra”.

Na conferência, o autor de “Norwegian Wood” afirmou que não é muito popular entre a crítica do seu país, porque é “diferente” de outros narradores japoneses, mas que “os leitores tomaram sempre partido por mim – e, já o disse, é isso que me faz sentir satisfeito”.

Satisfeito por ser quem é, Murakami auto-classificou-se como “uma esponja” que absorve tudo, e que tanto se sente atraído por Stephen King e Dostoievski, como por séries como Os Sopranos, e Perdidos, ou com bandas como Radiohead, isto apesar de também desfrutar das grande sinfonias da música clássica. “Eu sou assim”, apontou.

Sobre a sua opinião relativa ao Prémio Internacional da Catalunha, assinalou que já recebeu outros reconhecimentos ao longo da sua carreira, como o Prémio Franz Kafka há alguns anos, mas nunca se senta ao computador a pensar nisso.

“Agora, se recebo prémios, é algo que me faz sentir naturalmente contente, e é uma recompensa por um trabalho duríssimo”, reconheceu.

Neste caso, confessou que constatou um facto, ao ver os outros premiados de convocatórias anteriores (desde Claude Lévi-Strauss a Jimmy Carter, no ano passado), “sinto que estou a ficar velho, porque muitos desses premiados já têm a sua idade”.

O júri decidiu atribuir-lhe o prémio por entender que a sua narrativa “transcendeu o seu âmbito cultural” e converteu-se numa referência mundial, assim como pela criação de uma obra e um universo pessoal, e por “constituir uma ponte literária entre o Oriente e o Ocidente, capaz de juntar os dois mundos”.

Sem comentários: