quinta-feira, 19 de agosto de 2010

[Notícia] - Reconheceram este Japonês a correr no Parque Palace?

Estrela mundial anónima: Haruki Murakami esgotou a Casa da Literatura em 12 minutos. Mas poucos sabem que o autor japonês foi de férias durante três semanas para a Noruega. Foto: Lars Eivind Bones / Dagbladet

Traduzido e adaptado do Norueguês com muito esforço pela equipa do Murakami PT

Reconheceram este Japonês a correr no Parque Palace?

Ele é uma estrela literária.

Nas últimas três semanas, em Oslo, talvez tenha sido capaz de ver um japonês a correr diariamente em volta do Parque Palace. Todos os dias sem ser reconhecido, apesar de ser uma estrela mundial, traduzido para mais de 30 línguas.

Na próxima semana, no Litteraturhuset – Casa da Literatura – serão organizados quatro dias de Festival-Murakami. A sua presença neste festival no dia 23 de Agosto, fez com que os bilhetes fossem vendidos a um ritmo que normalmente caracteriza as visitas de bandas como os Metallica ou os Rolling Stones. Vários milhares de pessoas estavam vendidos. Os 750 bilhetes foram vendidos em apenas 12 minutos.

Bom para Hundrop

Neste Verão, Murakami e a sua esposa arranjaram quatro semanas de férias em Oslo. Um bom lugar para se estar, apesar de ser um pouco caro, segundo o autor popular. A partir daí viajou para Dovre e para o litoral oeste encontrando fans ansiosos em todos os luagares.
“Quando escrevo sinto-me um ser humano normal. Estou surpreendido com o enorme interesse mas não sou capaz de o explicar. Sou apenas um homem normal que gosta de contar boas histórias”, diz Murakami, um homem modesto, com uma camisola cinzenta com capuz, calções curtos de desporto e ténis.

- O que faz em Oslo, para além de correr?

“Acabei de concluir um enorme romance chamado “1Q84”. Consiste em três livros com mais de 1000 páginas no total. Cada um deles tem vendido um milhão de exemplares na primeira edição. Quando fui convidado para Oslo pensei que era uma boa oportunidade para respirar. É um país bonito, com muita natureza nas montanhas. Hundrop parece ser um lugar muito solitário, mas tem um excelente hotel, perto de um rio, e um grande restaurante.”

Acordei de repente

- Tem vivido em vários lugares, incluindo os E.U.A., Itália e Grécia. Onde é que se sente mais em casa?

“Em qualquer lugar. Enquanto tiver um bom ambiente de trabalho e um computador, fico satisfeito. Estou em casa quando posso escrever e ouvir boa música. Eu preciso de paz. O Havai é um bom lugar para se estar, quente e confortável.”

- Como é que conseguiu ser escritor?

“Eu sempre li muito. Gosto muito de romances. Quanto mais, melhor. Li “Os Irmãos Karamazov” de Dostoiévski quatro vezes e “Guerra e Paz” de Tolstói três vezes. O primeiro romance que li foi “O Vermelho e o Preto” de Stendhal aos 12 de idade. Desde aí fiquei viciado. Nunca pensei que pudesse escrever livros. Mas quando tinha 29 anos percebi que era possível. Quando já tinha muita experiência de vida. É absolutamente essencial quando se pretende escrever romances. A profundidade chega a partir de experiências reais. É precido ter amado, ter sido magoado e ter-se sentido deprimido, feliz.”

Felicidade própria

- Teve uma espécie de “clarividência” a meio de um jogo de basebol em 1979?

“Foi num belo dia de Abril. Eu estava cheio de um sentimento de felicidade. Foi como se algo descesse do céu. Pensei que tinha o dom especial necessário para escrever uma história. Nada pode ser comparado a esse sentimento. Desde então apenas tenho escrito e publicado. Nunca tive um bloqueio de escritor e nunca perdi a fé numa boa história com algo inesperado e que desperte o interesse. Escrevo quando quero. É uma pura alegria.”

- Muitos dos seus livros são uma espécie de romances policiais em ambientes desconhecidos. Tem-se preocupado com Raymond Chandler?*

“Os seus livros foram uma revelação. Muitos dos meus primeiros protagonistas tinham pouco em comum com o detective Philip Marlowe. Eram pessoas que foram expostas a acontecimentos estranhos, que observavam e se acabavam por envolver de forma passiva. Depois da Crónica do Pássaro de Corda esse padrão mudou. Os meus números são mais activos, positivos e agressivos. Entram mais na acção. Eles ajudam a desenvolver a história. O meu novo livro “1Q84”, especialmente, é feito dessa forma.”

Conflito no Japão

- O que há de novo no livro sobre “1Q84”?

“Muito. Relaciona-se com “1984” de George Orwell. Mas ele escreveu a partir de uma perspectiva futura. Eu considero 1984 e escrevo sobre o que poderia ter acontecido, mas não aconteceu.”

- Os seus livros são uma exploração eterna do que o homem é realmente?

"Quando se tenta encontrar a nossa identidade, há várias portas num labirinto. É mais proveitoso se se observar de fora. Como escritor posso ver as pessoas de fora, através dos olhos de um menino, de uma velha, de qualquer coisa.”

- Os seus livros são fortemente influenciados pela cultura ocidental. É aprovado pela polícia da iteratura japonesa?

“Mais do que antes. Há trinta anos atrás eu odiava-os e eles odiavam-me. Eu não gostava do que eles gostavam e eles não suportavam o que eu escrevia. Eu era o menino mal-comportado da classe. Eles eram guardiões da tradição japonesa. Clássicos entediantes como Mishima e Kawabata. Eu escrevo de forma completamente diferente. Estou interessado no intercâmbio cultural. O Japão tem estado muito isolado colectivamente. Tem havido um esforço para manter a sua individualidade. Mas eu tenho tanto no Ocidente, onde preservam a sua individualidade de forma natural. Tornaram tudo muito mais fácil.”

Sexo e Morte

- Costuma escrever sobre a relação entre o sexo e a morte?

“Há muitas portas para o subconsciente. Música, violência e sexo são essas portas. Eu não gosto de escrever sobre sexo mas tem de ser feito. O mesmo se aplica à violência. Na Crónica do Pássaro de Corda é um ser transparente. Existe também um caminho para o subconsciente. Brutal, mas inevitável."

- Tem muito interesse em música. Um escritor deve ser uma espécie de músico?

“Absolutamente. Deve ter um bom ritmo. O ritmo é bom, pode-se improvisar. Eu nunca sei o que escrever mas deixo a história evoluir à medida que trabalho. Quero que o leitor pergunte constantemente: uau, o que é que vai acontecer agora? Eu não gosto de realismo, é melhor quando a acção é tão espontânea que também me choca. A história pode lembrar um jogo de vídeo mas deve ser melhor. É o desafio de hoje: a conquista da televisão, da Internet e jogos de computador com uma boa história."

*N. do T. – Escritor americano especialista em romances policiais e de investigação.

Data: 18.08.2010 kl. 11:06
Fonte: Dagbladet

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