domingo, 4 de julho de 2010

[Crítica] - O Elefante Evapora-se


Penso que já toda a gente terá experimentado aquela sensação de desapontamento logo nos primeiros minutos de um filme. Não falo de um desapontamento por falta de qualidade ou por falta de entusiasmo. É mais aquele desapontamento de quando nos sentamos no sofá, à espera que dê um qualquer filme na televisão e acabamos por descobrir que já o vimos.

O que tem isto a ver com “O Elefante Evapora-se”? Mal abri o livro deparei-me com um título que me deixou curiosa. Curiosa e a pensar: “será…?” Era. O primeiro conto deste livro era o início de um outro romance (vamos apenas dizer assim para não estragar surpresas). E, ao contrário dos primeiros minutos de um filme que já se viu, reler as primeiras páginas de um dos melhores romances que já se leu é algo maravilhoso.
Depois desta surpresa inicial tive muitas outras. Ao fim de 6 livros de Murakami posso dizer que ainda não estou habituada a estas surpresas. Sempre que inicio um livro tenho a consciência de que me vou surpreender, já conheço os elementos mais utilizados pelo autor e até sou capaz de adivinhar certas coisas que com certeza aparecerão. Mas inacreditavelmente, consigo sempre surpreender-me com coisas que não esperava de todo.

“O Elefante Evapora-se” é o mais recente livro de Haruki Murakami editado em Portugal pela Casa das Letras, com a já habitual e fantástica (permitam-me o elogio) tradução de Maria João Lourenço, que reúne dezassete contos escritos entre 1983 e 1990.

Vou arriscar-me a dizer que gostei mais dos contos presentes neste livro do que na outra colectânea “A rapariga que inventou um sonho”. Estes contos fizeram-me rir, soltar exclamações e ficar de boca aberta (literalmente, convém dizer). Não sou capaz de escolher um como o meu preferido. São contos que ficam bem assim, tal como estão, juntos, agrupados.

Em “O Elefante Evapora-se” há contos mais reais, outros surreais e uma grande quantidade de contos que misturam as duas coisas. Há personagens novas e personagens de outros tempos e outros livros. A quem nunca leu contos de Murakami, aconselho vivamente a fazê-lo. Os seus romances fazem-nos entrar de tal forma no mundo Murakamiano que quando fechamos o livro quase conseguimos jurar que tudo o que lemos é real e possível de acontecer. Agora imagine entrar e sair constantemente de 17 mundos diferentes num só livro. Para quem gosta é, no mínimo, uma experiência incapaz de desiludir.

2 comentários:

N. Martins disse...

Fiquei assustada com o facto de a palavra "desapontamento" estar associada a uma obra de Murakami. Felizmente não é o desapontamento a que estamos habituados e o livro parece ser mais uma obra extraordinária! (suspiro de alívio)

Marta disse...

Acho que a palavra "desapontamento" em relação a um livro de Murakami nunca vai ser escrita por mim :)